quinta-feira, maio 28, 2009

O sexo é sagrado

O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.

Cláudia Marczak


quarta-feira, maio 27, 2009

Em busca da chave perdida

Subiu os poucos degraus até chegar à porta. Enfiou a mão na carteira à procura da chave. Encontrou o porta moedas, um maço de tabaco, dois isqueiros, o porta-documentos, o livro de cheques, um baton, um livro, milhões de talões de compras. Só não encontrou o que realmente procurava.
- Pensa... onde é que raio deixaste tu a chave de casa?
Lembrava-se perfeitamente de ter trancado a porta de manhã e de ter enfiado o porta chaves na carteira.
- Porra! Vou ter que ir a casa dos meus pais acordá-los a esta hora da noite.
Voltou a descer os poucos degraus até chegar à rua. Entrou no carro bufando e soprando e chamando-se nomes a ela própria.
- Que parva, que estupida. Onde é que andas com a cabeça... É sempre a mesma merda!
Sentou-se, fechou a porta do carro com a força com que se fecha o portão ferrugento de uma garagem.
Pegou na carteira, virou-a e despejou tudo em cima do banco. Chaves... nem vê-las.
Irritada, sacou de um cigarro. Remexeu na tralha que agora revestia o banco do carro à procura do isqueiro.
- Ah ah... apanhei-te, disse ela ao encontrá-lo. E nisto escapa-lhe o objecto da mão e vai parar-lhe debaixo do assento.
Curvou-se o melhor que podia mas a sua flexibilidade já não era o que era. A muito custou lá conseguiu enfiar a mão debaixo do assento e encontrou o isqueiro.
- Olha... está aqui mais qualquer coisa. Vai estica-te só mais um bocadinho que tu consegues. Isso...
E lá estava ela com a chave de casa na mão.
- Que alivio!
Voltou a subir os poucos degraus até chegar à porta.
Finalmente ia poder deitar-se.

terça-feira, maio 26, 2009

Upside Down

Instinctively you give to me
The love that I need
I cherish the moments with you
Respectfully I see to thee
Im aware that youre cheating
But no one makes me feel like you do

Diana Ross


quinta-feira, maio 21, 2009

A Andorinha

Uma vez mais acordou sem ter ouvido o despertador. Por sorte fê-lo mesmo a tempo. Não se atrasou. Abriu as persianas e absorveu na luz do dia a energia de que precisava para mais um dia de trabalho.
Hoje o céu estava branco, o sol escondido. Reparou numa andorinha delicadamente pousada sobre um fio mesmo ali ao lado, se abrisse a janela e estendesse a mão poderia tocá-la. Mas não o fez. Limitou-se a observá-la. Por detras do vidro com o seu fiel companheiro ao colo reparou na palha que saía do bico do pássaro.
-Andam à procura de sítio para fazer ninho, pensou ela com razão.
À primeira andorinha, juntou-se agora uma segunda. Essa vinha de bico vazio. Rondaram a janela, o telhado. Talvez procurando o lugar ideal para começarem a construção da nova casa.
Ela ali ficou a observar as aves até que se lembrou que o tempo não pára e que provavelmente se estaria a atrasar.
E retomou a sua rotina.


quarta-feira, maio 20, 2009

Frémito do meu corpo

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,


Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas ...


E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas ...


"Florbela Espanca"

terça-feira, maio 19, 2009

I can fly

See me fly,
I'm proud to fly up high
Show you the best of mine
Till the end of time
Believe me
I can fly,I'm singing in the sky
Show you the best of mine
To heaven in the sky

"Proud of you"

segunda-feira, maio 18, 2009

O Príncipe das orelhas de burro

Era um rei que vivia muito triste por não ter filhos e mandou chamar três fadas para que fizessem com que a rainha lhe desse um filho. As fadas prometeram-lhe que os seus desejos seriam satisfeitos e que elas viriam assistir ao nascimento do príncipe. Ao fim de nove meses deu a rainha à luz um filho e as três fadas fadaram o menino. A primeira fada disse:
- Eu te fado para que sejas o príncipe mais formoso do mundo.
A segunda fada disse:
- Eu te fado para que sejas muito virtuoso e entendido.
A terceira fada disse:
- Eu te fado para que te nasçam umas orelhas de burro.
Foram-se as três fadas e logo apareceram ao príncipe as orelhas de burro. O rei mandou sem demora fazer um barrete que o príncipe devia sempre usar para lhe cobrir as orelhas. Crescia o príncipe em formosura e ninguém na corte sabia que ele tivesse as tais orelhas de burro. Chegou a idade em que ele tinha de fazer a barba, e então o rei mandou chamar o seu barbeiro e disse-lhe:
- Farás a barba ao príncipe, mas se disseres que ele tem orelhas de burro morrerás.
Andava o barbeiro com grandes desejos de contar o que vira, mas, com receio de que o rei o mandasse matar, calava consigo. Um dia foi-se confessar e disse ao padre:
- Eu tenho um segredo que me mandaram guardar, mas se eu não o digo a alguém morro, e se o disser o rei manda-me matar; diga, padre, o que eu hei-de fazer.
Responde-lhe o padre que fosse a um vale, que fizesse uma cova na terra e que dissesse o segredo tantas vezes até ficar aliviado desse peso, e que depois tapasse a cova com terra. O barbeiro assim fez; e, depois de ter tapado a cova, voltou para casa muito descansado.
Passado algum tempo nasceu um canavial onde o barbeiro tinha feito a cova. Os pastores quando ali passavam com os seus rebanhos cortavam canas para fazer gaitas, mas quando tocavam nelas saíam umas vozes que diziam:
- O Príncipe tem orelhas de burro.
Começou a espalhar-se esta notícia por toda a cidade e o rei mandou vir à sua presença um dos pastores para que tocasse na gaita; e saíam sempre as mesmas vozes que diziam:
- O Príncipe tem orelhas de burro.
O próprio rei também tocou e sempre ouvia as mesmas vozes. Então o rei mandou chamar as fadas e pediu-lhes que tirassem as orelhas de burro ao príncipe. Então elas mandaram reunir a corte toda e ordenaram ao príncipe que tirasse o barrete; mas qual não foi o contentamento do rei, da rainha e do príncipe ao ver que já lá não estavam as tais orelhas de burro! Desde esse dia as gaitas que os pastores faziam das canas do tal canavial deixaram de dizer:
- O Príncipe tem orelhas de burro.
E pronto, acabou a famoso história do Príncipe com Orelhas de Burro.

quarta-feira, maio 13, 2009

Escrever em branco

Sentou-se confortavelmente na cadeira, pegou numa folha de papel branco e numa caneta. Fechou os olhos e esperou. Esperou que o silencio daquela velha casa lhe trouxesse alguma inspiração. Abriu um olho, depois o outro e achou ridicula a figura que estaria a fazer. Manteve os olhos abertos, porém nenhuma ideia lhe surgia.
Passou com a caneta pela virgem brancura do papel, um risco azul sobressaia na outrora imaculada folha.
- Nada... não me apetece escrever nada, pensou ela.
Traída pela sua inspiração, ou antes pela falta dela, deixou-se levar pelo cansaço. Poisou a cabeça nos braços, inspirou e adormeceu.

terça-feira, maio 12, 2009

Eu dou...

... alegria a quem está triste.
... atenção a quem está só.
... carinho a quem mo pedir.
... uma dose de boa disposição quando for preciso.
... eu dou e voltarei a dar, sempre que me pedirem, uma mãozinha para se levantarem.

E sei que quando eu precisar, como já precisei, terei sempre alguém para me dar a mão.

"Se alguém está tão cansado que não te possa dar um sorriso, deixa-lhe o teu" (Provérbio chinês)

segunda-feira, maio 11, 2009

A casa

A casa tinha o cheiro de abandono. O pó cobria os pouco móveis dispostos de forma desarrumada pelas várias divisões. A escuridão dominava o espaço vazio.
À medida que ela abria as portadas, a casa despertava. As janelas abertas deixavam entrar o vento que trazia com ele o cheiro a mar. As camas, cobertas com velhas mantas, esperavam por quem lhes desse uso.
Durante dois dias, a casa ganhou vida. Ao cheiro de abandono misturou-se o cheiro a comida, a perfume, a mar. Durante dois dias, o silencio deu lugar a risos, a conversas, a música. Durante dois dias ela foi ainda mais feliz.
Até que as janelas se voltaram a fechar, a escuridão voltou a dominar o espaço e o silêncio fez-se ouvir. A casa voltou a adormecer e ela prometeu voltar a despertá-la.

sexta-feira, maio 08, 2009

O Calor

Já faz alguns anos que ela deixou para trás o país frio que a viu nascer. Um país onde as montanhas disputam o lugar mais perto do céu, um país onde o verde quase se sobrepõe ao cinzento das cidades, um país que ela nunca esquecerá!
Apesar de vir do frio, o que ela mais aprecia é o calor, qualquer tipo de calor. O calor do sol a bater na pele, o calor do aquecedor nos dias de inverno, o calor da lareira que ela não dispensa, principalmente pela companhia que lhe faz.
Mas há um calor de que ás vezes, e só ás vezes, eu diria até muito poucas vezes lhe faz falta. É o calor humano.
Apesar de serem poucas as vezes que ela sente esta falta, quando esta ausencia lhe chega... bate-lhe com uma força incrivel. É nessas alturas que ela se lembra de como é bom ter alguém capaz de, para além de lhe aquecer a cama, poder aquecer-lhe a alma e o coração.
É ela uma "viciada" no calor. Que contradição... nasceu no país do frio.

quinta-feira, maio 07, 2009

Pedra fria

Tenta sempre arranjar companhia para sair, não gosta de estar sozinha. Gosta de companhia de momentos, gosta que lhe liguem, que a convidem para qualquer tipo de actividade. A única coisa que ela defende, é o seu espaço. Gosta de fazer o que quer quando quer e não se deixa levar por falinhas mansas. Não suporta lamechices.
Há quem diga que ela é má, há quem diga que ela é fria. Mas o que é certo, é que ainda não apareceu quem conseguisse derreter o seu coração de pedra. Enquanto esse dia e essa pessoa não chegarem, ela vai continuar assim... a zelar pelo seu espaço, o bem mais valioso que ela possui!